Modelo inovador de participação societária põe em discussão novas formas de negociação envolvendo spin-offs de origem acadêmica. A Fundepar, empresa de investimentos da Fundação de Apoio da UFMG, além de investidora, foi acionista representante dos direitos da Universidade na companhia
Um acordo jurídico construído ao longo de uma década a partir das bases do Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, seguindo exemplo de práticas adotadas pela Universidade de Stanford, possibilitou que a UFMG fosse sócia de uma empresa nascida no Departamento de Ciência da Computação (DCC/UFMG), que foi adquirida pelo banco Bradesco. Inédito no país, o acordo impulsiona ainda a discussão sobre como ampliar formas de negociação envolvendo spin-offs de origem acadêmica.
Investida pela Fundep Participações (Fundepar), a Kunumi é especializada em inteligência artificial e machine learning e tem o objetivo de resolver problemas complexos por meio de plataforma formada por rede neural artificial que analisa grandes bases de dados, reconhece padrões e detecta soluções. A spin-off da UFMG foi adquirida pelo Grupo Bradesco em maio deste ano. O modelo de usufruto de ações, adotado na negociação entre a UFMG e a Kunumi, representa acordo jurídico inédito entre academia e iniciativa privada em relação à remuneração de uma universidade por meio da transferência de tecnologias no País.
Diferentemente das negociações desta natureza, em que o pagamento geralmente se dá por por meio de royalties, o novo arranjo possibilitou com que a UFMG tivesse direitos sobre as ações da Kunumi em troca da transferência de propriedade intelectual desenvolvida na Universidade. A participação em ações foi transformada em dinheiro quando a empresa foi adquirida pelo Bradesco e, portanto, ao longo da sociedade, a Universidade teve os mesmos direitos que qualquer acionista em relação a dividendos e à venda da spin-off.
Estratégia de expansão da Kunumi foi conduzida em 10 anos
Para que o sistema pudesse ser viabilizado foi desenvolvido um modelo de participação acionária para a empresa que envolveu, há cerca de dez anos, as equipes da Fundepar e da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT UFMG). Por meio do modelo de participação acionária, a UFMG oferece aporte de know-how e em troca recebe ações da empresa e distribuição de dividendos e, em caso de venda, também o valor correspondente ao acordo.
“Nesse contexto, à época em que foi o modelo começou a ser estruturado, em 2016, como a Universidade não poderia participar do capital social de uma empresa privada por questões legais, coube a Fundep Participações S/A, como veículo de investimento da Fundep, ser a guardiã dessas ações e participar da companhia em prol dos interesses da UFMG até o momento em que ocorresse a venda, efetivamente. Após esse evento os valores correspondentes a essa participação foram retornados à UFMG como pagamento pela transferência original da tecnologia”, explica o diretor de gestão da Fundepar, Felipe Godoi.
Os desafios apresentados demonstraram que temos uma legislação que suporta novos tipos de arranjo para empreendimentos de base tecnológica. “A complexidade dos negócios demonstra a força que o nosso país tem de fazer a diferença em ciência, tecnologia e inovação”, diz a coordenadora executiva da CTIT, Juliana Crepalde.
Fundepar e Kunumi: parceria de investimentos e jornada empreendedora
A Fundep Participações investe em empresas em fase inicial de desenvolvimento e de alto potencial de crescimento e, por isso, garante os recursos necessários para executar seus planos de negócio e trilhar o caminho de inserção dos produtos no mercado. A Kunumi é um exemplo de empresa que usufruiu dos recursos provenientes dos programas de investimento oferecidos pela Fundepar.
A spin off recebeu dois aportes de verbas, o primeiro, em 2016, a partir do Programa de Investimentos em Empresas Inovadoras e o segundo, em 2020, pelo Fundo de Investimento e Participações (FIP) Seed4Science. Os investimentos realizados permitiram que a empresa pudesse se estruturar e expandir, proporcionando a chegada de novos investidores estratégicos que contribuíram para o constante crescimento da companhia.
“O investimento feito à Kunumi exemplifica o propósito da Fundepar, por meio do programa Seed4Science, de encontrar negócios promissores desenvolvidos a partir de décadas de desenvolvimento tecnológico de ponta e, dessa forma, proporcionar recursos financeiros e capital empreendedor em fases em que tradicionalmente o mercado de Venture Capital não aposta”, avalia o diretor executivo da Fundepar, Carlos Lopes.
Com assessoria de comunicação da CTIT
