Treinado com dados nacionais, o Jurema 7B é uma ferramenta poderosa para otimizar processos em escritórios, empresas e poder público
A NeuralMind.AI, deep tech brasileira, investida da Fundepar, que desenvolve soluções complexas de inteligência artificial, e o Escavador, legaltech de pesquisas jurídicas, acabam de lançar em conjunto o Jurema 7B, o melhor Grande Modelo de Linguagem (LLM, na sigla em inglês) de código aberto especializado no sistema jurídico brasileiro e treinado com dados nacionais.
O modelo, primeiro fruto de um projeto selecionado pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), recebeu um investimento de R$10 milhões e acaba de ser disponibilizado gratuitamente na plataforma Hugging Face com o intuito de ser uma ferramenta inédita para empresas que oferecem soluções de IA para o ambiente jurídico brasileiro tanto na esfera pública quanto na privada.
“Treinar um LLM especialista exige mais do que boa engenharia. Exige bons dados — curados, representativos e contextualizados”, afirma Roberto Lotufo, CTO da NeuralMind.AI. “Nesse ponto, a parceria com o Escavador foi essencial: com a base disponibilizada por eles conseguimos construir um dataset jurídico de alta qualidade.”
Com 7 bilhões de parâmetros, o Jurema oferece um excelente desempenho mesmo em máquinas com capacidade limitada, possibilitando sua adoção por escritórios e desenvolvedores sem necessidade de uma infraestrutura tão robusta quanto a de modelos maiores. Seu grande diferencial é justamente ter sido desenvolvido no Brasil com foco no contexto jurídico do país. “É um modelo com ajuste fino para o sistema jurídico nacional, confiável, prático e ágil”, diz Bruno Cabral, CEO do Escavador. “O objetivo é democratizar o acesso a LLMs especializados em direito no Brasil.”
A maioria dos modelos de linguagem utilizados no país é desenvolvida no exterior, treinada principalmente em inglês e baseada em dados jurídicos de países estrangeiros. Por isso não compreendem com profundidade as especificidades da legislação brasileira, ignoram nuances de jurisprudências locais e apresentam dificuldades em interpretar corretamente termos técnicos, doutrina e práticas jurídicas do nosso sistema.
MENOS ALUCINAÇÃO
O Jurema 7B oferece mais precisão e maior aderência à realidade dos profissionais do direito no país. Seja para resolver questões jurídicas complexas, gerar insights ou democratizar o acesso à informação legal. “É um modelo mais assertivo do que as IAs generalistas para responder perguntas do domínio jurídico”, revela Lotufo. “Um dos objetivos do treinamento especializado é mitigar alucinações.”
O modelo desenvolvido com dados nacionais pode ser usado para atacar com objetividade os desafios operacionais enfrentados no dia a dia pelos tribunais e escritórios, como o alto volume de processos ou atividades repetitivas.
É notório que o Brasil convive com um dos mais altos índices de judicialização no mundo – são cerca de 84 milhões de processos tramitando em 91 tribunais, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Além disso, o país é o que mais possui advogados em termos proporcionais, com cerca de 1,4 milhões de profissionais, de acordo com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Por outro lado, de acordo com uma pesquisa elaborada pela OAB-SP, quase 30% deles não usam nenhuma solução de IA no dia a dia e apenas 55% afirmam usar regularmente.
“Soluções como o Jurema 7B podem otimizar recursos, reduzir custos e aumentar a eficiência operacional”, diz Patricia Tavares, cofundadora e CEO da NeuralMind.AI. “O modelo pode ser muito útil para gerar rascunhos de peças jurídicas, analisar e resumir documentos complexos, fazer pesquisa jurídica conversacional e criar atendimento automatizado para triagem e dúvidas, entre outros pontos.”
GABARITANDO NA OAB
O Jurema 7B alcançou alta performance em tarefas jurídicas e superou benchmarks específicos como o exame da Ordem dos Advogados do Brasil. Ele respondeu 2500 questões de provas de diferentes anos da OAB e acertou 67% das respostas, um índice bem superior aos 50% de acertos necessários para passar na primeira fase do exame.
Mais: com “apenas” 7 bilhões de parâmetros, o Jurema obteve um desempenho superior na prova da OAB do que modelos com dez vezes mais parâmetros, justamente por ter sido ajustado com dados brasileiros de alta qualidade, vindo de fontes confiáveis.
A escolha do nome é uma homenagem à árvore típica da caatinga nordestina conhecida, entre outras coisas, por sua resiliência e capacidade de restauração de áreas degradadas – atributos que, de forma análoga, podem ser usados para o modelo de linguagem com raízes brasileiras e construído para durar.
O nome do modelo, assim como na botânica, refere-se a uma grande família. O Jurema 7B é apenas o começo. Em breve, o clã vai ganhar versões maiores e mais poderosas capazes de contribuir de forma indelével à transformação digital do ambiente jurídico brasileiro.
Saiba mais no site da Neuralmind.
