Evento reuniu empreendedores, especialistas e entidades envolvidos em soluções inovadoras
Sustentabilidade e inovação nascem do esforço coletivo entre vários saberes e instituições. Essa foi a mensagem central do encontro Ciência e Inovação para um futuro sustentável, que aconteceu na reitoria da Universidade Federal de Minas Gerais, na última sexta (19). No evento, também foi realizado o encerramento do segundo ciclo do Motirõ e a divulgação da primeira edição do Relatório de Impacto do programa.
O encontro, promovido pela Fundepar e a UFMG, foi aberto ao público e contou com a presença de representantes da universidade e de outras entidades que compõem o ecossistema de inovação em Minas Gerais. Foi destaque da programação, também, a palestra do CEO e Fundador da Colibri Interfaces, Adriano Rabelo. A empresa é uma das mais inovadoras e premiadas startups de tecnologia assistiva do mundo, vencedora da Global Social Venture Competition (GSVC) 2019.
Empreendedorismo de impacto na prática
A programação teve início com o painel Ciência, inovação e sustentabilidade – a experiência da UFMG, com a participação da pró-reitora e também do diretor da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica da UFMG (CTIT), Gilberto Medeiros. A mediação foi feita pelo professor Dawisson Elvécio Belém Lopes, diretor do Escritório de Governança dos Dados Institucionais da UFMG.
Ao abrir o debate, o professor Dawisson destacou como a aproximação entre ciência, inovação e sustentabilidade nem sempre foi natural no ambiente acadêmico. “Quando eu era estudante, essa combinação soava improvável, não era um trio comum”, lembrou. Para ele, o cenário atual mostra uma mudança positiva: “Hoje, felizmente, vemos esse diálogo se consolidar, construindo uma universidade que se baseia nessas conexões — e esse é o caminho para o nosso futuro.”
A professora Jacqueline Takahashi reforçou a perspectiva apresentada por Dawisson, lembrando que a UFMG já consolida um papel de destaque na pesquisa voltada para inovação e sustentabilidade. Ela citou exemplos, como os 753 grupos de pesquisa em todas as áreas do conhecimento e os 17 institutos nacionais de ciência e tecnologia coordenados por docentes da universidade. “Nossos trabalhos são inovadores e alcançam diretamente a sociedade. Esse avanço é fruto de uma estrutura sólida e de recursos humanos qualificados, que têm impulsionado a produção científica ao longo dos anos.”, afirmou.
Completando a reflexão, o diretor da CTIT, Gilberto Medeiros, trouxe a provocação sobre a falsa oposição entre lucro e sustentabilidade. “Quando precisamos escolher, vamos ser lucrativos ou ambientalmente conscientes? A verdade é que não temos que fazer essa escolha, porque um pode, e deve, se relacionar com o outro”, afirmou. Como exemplo, ele mencionou a comparação entre o índice S&P 500 e o S&P 500 ESG. Ambos os indicadores são feitos pela agência Standard & Poor’s e elencam, respectivamente, os 500 ativos mais cotados na bolsa de valores dos Estados Unidos e como essas empresas consideram os indicadores de ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança – medindo o desempenho das companhias também a partir desses critérios ambientais, sociais e de governança.

Fonte: S&P Dow Jones Indices LLC (citado pelo palestrante)
Ao final, Gilberto ainda lembrou o papel estratégico da CTIT/UFMG, responsável por transformar conhecimento científico em inovação de impacto, mostrando como a universidade consegue aliar excelência acadêmica a resultados que chegam à sociedade.
Segundo ciclo do Motirõ consolida inovação e inclusão no ecossistema de impacto
Na ocasião, também foram apresentados os resultados do segundo ciclo do Motirõ. Iniciativa da Fundepar, a segunda edição do programa de desenvolvimento de negócios de impacto foi realizada no primeiro semestre de 2025. “No segundo ciclo do programa, foram 112 participantes, 16 empresas no módulo de aceleração e mais de 160 horas, entre aulas da formação, atividades de aceleração, assessorias individualizadas e mentorias temáticas. Isso mostra que o interesse e a busca por capacitação no campo dos negócios de impacto estão crescendo de maneira significativa. O Motirõ se consolidou como uma plataforma essencial para impulsionar ideias inovadoras e conectar empreendedores com as ferramentas necessárias para transformar suas iniciativas em soluções reais para a sociedade.”
Além disso, o diretor executivo da Fundepar, Carlos Lopes, compartilhou os destaques desse ciclo e fez a divulgação do Relatório de Impacto da primeira turma do programa. “Os resultados detalhados neste relatório, além de revelar o alcance dos objetivos que criaram o Motirõ, materializam a relevância do programa para o ecossistema de inovação e impacto socioambiental positivo no País”, completa.
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Da extensão à inovação: projetos que transformam conhecimento em impacto real
Durante o evento, também ocorreu um painel dedicado à discussão sobre a importância do empreendedorismo de impacto, com a participação da Head de Sustentabilidade do Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC), Camila Viana, do professor do Departamento de Engenharia da UFMG e coordenador do programa Motirõ, Hermes Magalhães Aguiar, e da professora do departamento de Genética, Ecologia e Evolução do Instituto de Ciência Biológicas da UFMG, Maria Auxiliadora Drumond, orientadora do Projeto Pequi. A iniciativa de extensão universitária, vinculada ao Laboratório de Sistemas Socioecológicos do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, promove o uso do fruto do cerrado como fonte de renda.
Abrindo a discussão, o mediador Carlos Lopes, diretor da Fundepar, explicou que o objetivo do debate era trazer exemplos práticos de como a UFMG vem lidando com os desafios da inovação e da sustentabilidade em diferentes frentes. Segundo ele, as ações se manifestam tanto em programas institucionais quanto em iniciativas do Parque Tecnológico e em projetos de extensão. “Queremos mostrar que a universidade não se limita à reflexão teórica, mas também atua diretamente, com práticas e intervenções que têm impacto real na sociedade”, destacou.
Camila Viana trouxe exemplos práticos da atuação do Parque Tecnológico BH-TEC no desenvolvimento e suporte a negócios de impacto. Ela explicou que a sustentabilidade é estratégica para o parque, que busca materializar sua missão de ser “um ambiente de inovação como motor do desenvolvimento sustentável. “Quando pensamos em negócios, a primeira ideia que surge geralmente são soluções sustentáveis, mas é preciso também olhar de forma estrutural e estratégica dentro do próprio negócio”, destacou.
Camila também apresentou o LabMim, um projeto em parceria com a universidade que desenvolve metodologias específicas para aplicar a sustentabilidade de maneira prática nos negócios. A partir dessas iniciativas, o BH-TEC estruturou o Centro de Inteligência em Sustentabilidade, que oferece ferramentas e instrumentos para estudar e transformar conceitos de sustentabilidade em resultados concretos para empresas e projetos de impacto.
Na sequência, a professora Maria Auxiliadora trouxe um exemplo de como a universidade, por meio de projetos de extensão, pode gerar impacto direto em comunidades locais.
Ela apresentou o Projeto Pequi, uma parceria entre o Instituto Sustentar, a UFMG e os moradores do quilombo de Pontinha, que deu origem à empresa Pontinha do Sabor. “A partir do projeto, conseguimos consolidar o uso do pequi, fruto nativo do Cerrado, como fonte de trabalho e renda para a comunidade, além de promover a conservação da sociobiodiversidade do bioma”, explicou. Desde 2012, o grupo reúne homens e mulheres que transformaram o extrativismo sustentável em uma atividade profissional.
Maria Auxiliadora destacou ainda que a universidade não é a única a trazer soluções para questões da sociedade. “Foi justamente a convivência com a comunidade e o conhecimento local que nos mostrou como desenvolver o negócio de forma sustentável”, afirmou. Ela ressaltou a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, conceito que evidencia como essas três dimensões devem caminhar juntas: “o conhecimento acadêmico se enriquece com a prática, e a prática se fortalece com a pesquisa e o ensino.”, completa.
Finalizando a mesa, o professor Hermes Aguiar – que além de coordenador do Motirõ é responsável por algumas disciplinas na UFMG que tratam sobre o empreendedorismo – falou da relevância de o tema ser abordado dentro da Universidade. “Essa discussão já foi polêmica, mas hoje o empreendedorismo se consolidou como uma das competências mais essenciais para o desenvolvimento não só do mercado, mas também da sociedade. A Universidade tem o papel fundamental de preparar os estudantes para pensar além da teoria, capacitando-os para inovar, resolver problemas e gerar soluções criativas, e é justamente isso que buscamos ensinar aqui, ampliando a visão sobre o tema de forma cada vez mais relevante”, enfatiza.
Trajetória empreendedora
A última palestra foi conduzida por Adriano Rabelo que contou sobre a trajetória da Colibri Interfaces, startup fundada por três egressos da Escola de Engenharia da UFMG. As principais criações da empresa foram o Colibri mouse, aparelho vestível que permite a centenas de pessoas tetraplégicas usar o celular movendo a cabeça, e o Conversia, primeiro comunicador nacional de alta tecnologia com IA, que devolve voz e autonomia a pessoas totalmente paralisadas.
Compromissos institucionais diante dos desafios contemporâneos
O encerramento do evento foi realizado pela reitora da UFMG, professora Sandra Regina Goulart Almeida, e pelo presidente da Fundep, professor Jaime Arturo Ramirez, que debateram sobre os compromissos institucionais da Universidade para a promoção da ciência, inovação e da sustentabilidade.
A reitora Sandra Regina Goulart Almeida lembrou que a UFMG tem buscado fortalecer essas conexões, que já apareceram ao longo do debate em diferentes perspectivas, da pesquisa de ponta à atuação em comunidades. “Quando falamos em inovação, muitas vezes se pensa apenas em tecnologia, mas a inovação está em todas as áreas do conhecimento e sempre associada à capacidade de trazer o novo”, afirmou. Para a reitora, esse é também o papel do empreendedorismo e da universidade: transformar ideias em soluções que contribuam para o desenvolvimento sustentável da sociedade.
O professor Jaime Arturo Ramirez, em sua fala lembrou que, há pouco mais de uma década, a UFMG era reconhecida como uma instituição contemporânea, e reforçou como esse mote segue atual. “É fundamental continuarmos investindo e acreditando que os avanços tecnológicos trazem benefícios para a sociedade, mas precisamos reconhecer também que os desafios sociais e ambientais são igualmente contemporâneos e urgentes”, afirmou.
O presidente da Fundep parabenizou ainda os participantes do segundo ciclo do Motirõ, destacando que iniciativas voltadas para impactos sociais e ambientais merecem tanta atenção quanto as questões tecnológicas. “Isso mostra não apenas a dimensão da importância desses temas para os desafios contemporâneos, mas sobretudo a grandeza que a UFMG tem em todas as áreas do conhecimento”, completou.
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Texto: Maria Carolina Martins
Imagens: Eduardo Gabão









