Projeção da Universidade Federal de Minas Gerais no cenário da ciência, pesquisa e inovação evidencia a existência de capital propício ao investimento e desenvolvimento tecnológico
Duas notícias que colocaram a Universidade Federal de Minas Gerais em destaque no início de novembro evidenciam também a importância do investimento em empreendimentos de base acadêmica. A primeira indica que a UFMG tem 64 pesquisadores listados no rank dos cientistas mais influentes do mundo, produzido pela Universidade de Stanford (EUA). A segunda notícia é de que uma spin off da UFMG exportou para a Alemanha um nanoscópio, instrumento científico que viabiliza a aplicação da nanotecnologia em áreas diversas, como medicina, agricultura, energia e materiais.
As duas notícias se conectam por meio da FabNS, um spin off do laboratório de nanoespectroscopia (LabNS), coordenado pelo professor Ado Jorio, que é um dos integrantes da lista dos pesquisadores mais influentes do mundo. A FabNS foi investida em 2021 pela Fundepar, com o objetivo de proporcionar à empresa condições para ter a estrutura necessária para ida ao mercado e realização das primeiras vendas do nanoscópio.
Foi justamente a qualidade do capital humano da UFMG e seu reconhecimento internacional que levaram a Fundação de Apoio da UFMG (Fundep) a criar, em 2013, uma empresa para investimento e apoio ao surgimento de spin offs acadêmicas, potencializando o impacto do desenvolvimento tecnológico e das inovações produzidas nas universidades brasileiras. Com mais de 10 anos de atuação no mercado, a Fundepar vem investindo em startups inovadoras com grau elevado de desenvolvimento tecnológico. Foram mais de 50 investimentos realizados ao longo desses anos, sendo 12 deles pelo FIP Seed4Science, cujo portfólio conta com duas empresas criadas a partir de pesquisas realizadas por pesquisadores da UFMG.
"A Fundepar acredita que os investimentos de base tecnológica e de impacto social são estratégias necessárias para a solução de problemas relevantes e desenvolvimento socioeconômico visando sempre melhorar a qualidade de vida para todos" avalia Carlos Lopes, diretor executivo da Fundepar.
O ranking dos cientistas mais influentes do mundo
Produzido na Stanford University (EUA) com dados da base Scopus, da editora Elsevier, o ranking dos cientistas mais influentes do mundo apontou a UFMG como a primeira universidade federal no ranqueamento e a quarta entre todas as brasileiras, depois das estaduais paulistas, com 64 professores listados. O estudo também resultou em uma lista dos cientistas mais influentes ao longo da carreira. Nesse caso, a UFMG tem 46 pesquisadores classificados, aparecendo também entre as quatro universidades brasileiras mais bem posicionadas.
As instituições brasileiras tinham 1.294 entre os 100 mil mais influentes no ano passado. A lista reúne 210.198 nomes, e os pesquisadores vinculados a instituições brasileiras representam 0,61% do total, colocando o país na 25ª posição. Na lista que foi divulgada em 2017, a UFMG contava com 18 cientistas com produção de alto impacto. Esse ano, o número é 3,5 vezes maior.
A professora Deborah Carvalho Malta, da Escola de Enfermagem, é a pesquisadora da UFMG mais bem pontuada no ranqueamento atual e a décima no critério de carreira. Além da professora, a classificação dos 10 cientistas mais influentes da UFMG em 2022 tem, pela ordem, os professores Herman Mansur (Escola de Engenharia), Robson Santos (ICB), Geraldo Wilson Fernandes (ICB), Maria Isabel Toulson Davisson Correia (Faculdade de Medicina), Ado Jorio (ICEx), Antonio Luiz Pinho Ribeiro (Faculdade de Medicina), Mauro Martins Teixeira (ICB), Marcos Pimenta (ICEx) e Ary Teixeira Oliveira-Filho (ICB). O professor Virgílio Almeida, do Departamento de Ciência de Computação do ICEx, não está na lista da UFMG, mas aparece vinculado à Harvard University (EUA).
Nanoscópio vai integrar centro de pesquisa de mais antiga universidade alemã
A investida mineira de base científico-tecnológica especializada no desenvolvimento e fabricação de Instrumentos ópticos para caracterização de materiais em escala nano, FabNS (Fábrica de Nanossoluções), exportou o primeiro nanoscópio para a Alemanha na última segunda-feira (6), depois de um ano e meio de lançamento da empresa.
Batizado de Porto, trata-se do nanoscópio óptico com maior resolução do hemisfério Sul e possibilita analisar e manipular estruturas em altas escalas de resolução, viabilizando a aplicação da nanotecnologia em áreas diversas, como medicina, agricultura, energia e materiais.
O Porto gera imagens com altíssima resolução espacial e é capaz de revolucionar a pesquisa em nanomateriais, como a produzida com o grafeno. A nanotecnologia é apontada como a base da próxima revolução industrial, e o pioneirismo do Brasil na área de instrumentação analítica em nanotecnologia permite a inserção brasileira no mercado internacional.
Desenvolvimento protegido por patente
Atualmente, o Porto possui 16 patentes no Brasil, na China, Europa e nos EUA. Para chegar ao ponto de ser exportado, o equipamento percorreu uma rota de quase 20 anos, que envolveu pesquisa, desenvolvimento e investimento público, para chegar na estruturação da linha de estudo, na consolidação das técnicas, e finalmente na concepção do produto.
A Universidade Humboldt de Berlim - a mais antiga da capital alemã - decidiu incorporar o equipamento ao seu centro de estudo e pesquisa pela funcionalidade do instrumento científico. O Porto tem outras três vendas programadas para instituições brasileiras, além de cotações enviadas para outros países.